Carta de uma Bisavó: Pregação sobre Família

Queridos bisnetos, queridas bisnetas,

Abram suas mentes para essa grande pregação sobre família. Assim como aprendemos sobre a biografia de Einstein, Buda, Ayrton Senna, e tantas outras pessoas que viveram neste mundo, vamos falar sobre os ensinamentos de Jesus?

Conta a história que, na sua Última Ceia, Jesus decidiu lavar os pés dos seus discípulos. Ora, meus queridos, Ele era o Mestre, o mais elevado entre todos, poderia muito bem ter pedido que lavassem os seus pés. Mas não. Ele se abaixou com humildade e fez isso Ele mesmo, lavando os pés daqueles que o seguiam.

Essa é uma verdadeira pregação sobre família! Eis um grande ensinamento de humildade e de servir. Muitas vezes não tive coragem de “lavar os pés” das pessoas que convivi porque realmente não é fácil, mas fui muito feliz quando me coloquei a serviço e entreguei o que tinha de melhor.

Agir com humildade pode começar com pequenos gestos: aquele bolo de chocolate que eu fazia e nosso filho, com 5 anos de idade, dizia: “Mãe, o teu bolo de chocolate é o melhor do mundo inteiro”! Depois precisei incrementar porque a nossa filha queria o mesmo bolo só que recheado. E eu reclamava!

Sim, às vezes eu estava cansada e queria descansar e era mais trabalhoso fazer com recheio, além de que nunca fui bem na arte de rechear e a massa se quebrava inteira! O bolo de chocolate ficava tão feio que dava até vergonha, mas quando ela comia, com tanto gosto, dava até uma emoção e meu coração transbordava de amor.

Servir é sobre dar o nosso melhor mesmo quando achamos que é pouco. É sobre pequenos gestos diários de cuidado, de atenção e de escuta.

E quer saber?

Quando participei da encenação do lava-pés e o padre lavou meus pés, me senti muito mal. Uma sensação estranha de que algo não estava certo, não entendi direito na hora, só muito tempo depois entendi, não me sentia merecedora. Claro, a gente foi ensinada a ser “fortona”, a acreditar que não precisamos de ninguém e a se virar sozinha. E tem momentos que precisamos acionar toda a nossa força mesmo, mas quando baixamos a guarda e olhamos para Jesus lavando os pés dos seus discípulos entendemos que podemos servir e merecemos receber.

São dois lugares diferentes, mas vividos ao mesmo tempo. Ora estou recebendo amor, carinho, cuidado e ora estou servindo, contribuindo, entregando o que tenho de melhor, mesmo que seja um pedaço de bolo de chocolate!

Queridos bisnetos, queridas bisnetas, sirvam com amor e aprendam a receber. Às vezes receber é desafiador, mas aprendam a receber. Vocês têm uns aos outros e a corrente do bem começa em casa! Que essa pregação sobre família sirva como um lembrete de que o amor vivido no dia a dia é uma expressão concreta do que há de mais sagrado.

Reflexões para quem vive em família

E agora eu pergunto a vocês, com todo o carinho do meu coração de bisa:

  • Como vocês servem uns aos outros dentro de casa?
  • Vocês têm demonstrado amor com gestos simples, como um abraço, um café quentinho ou um bilhete carinhoso?
  • E quando recebem algo de alguém – seja atenção, um favor, um sorriso ou um conselho – vocês conseguem acolher com gratidão ou sentem que precisam retribuir imediatamente?

Essa pregação sobre família não é sobre uma lembrança religiosa. É um convite à prática diária do amor generoso, humilde e sincero. A família é o primeiro lugar onde aprendemos a servir e a receber. É nela que ganhamos as primeiras lições de empatia, paciência e cuidado.

Quando olho para trás, vejo que os momentos mais marcantes da minha vida não foram os grandes eventos ou conquistas, mas os pequenos instantes compartilhados com quem eu amo: o olhar de gratidão de um filho, o riso de uma neta, o silêncio respeitoso de quem só queria ficar por perto.

E vocês? O que querem lembrar quando estiverem com os cabelos brancos como os meus?

Ah, e não pensem que eu sempre entendi essas coisas desde jovem. Muitas dessas lições da vida a gente só entende com o tempo. Eu já me irritei com bobagens, já bati o pé achando que estava certa, já deixei de pedir desculpas por orgulho. Mas também aprendi que voltar atrás nunca diminui ninguém. Pelo contrário, pedir perdão é uma das maiores demonstrações de força e humildade.

E isso vale para todas as gerações. Talvez vocês, que cresceram com tecnologia, com pressa e tantas distrações, precisem de um esforço a mais para se sentarem juntos à mesa, olharem nos olhos, conversarem de verdade. Façam isso. Reservem momentos sem celular, sem barulho, só com presença. É nesses momentos que os laços se fortalecem e que a alma encontra descanso.

Desejo que vocês saibam valorizar o que é invisível aos olhos, mas essencial ao coração: o afeto, o cuidado, a compaixão. Que saibam também pedir ajuda quando precisarem e estender a mão quando virem alguém cansado. O mundo já tem dor demais — que a casa de vocês seja um refúgio de acolhimento, um lugar onde todos possam ser quem são, com suas luzes e sombras, com seus erros e recomeços.

A minha vida não foi perfeita. E a de vocês também não será. Mas que seja verdadeira. Que vocês tenham coragem de amar, mesmo com medo. Que sirvam uns aos outros com gestos simples. Que peçam perdão e saibam perdoar. Que não deixem o orgulho endurecer o coração. E que encontrem, na fé e na convivência, um caminho de crescimento, de partilha e de paz.

Essa é a pregação sobre família que carrego comigo, não apenas nas palavras, mas nas marcas da vida que me ensinaram o que realmente importa.

Fiquem bem!

A bisa ama vocês!